Uff! Há já algum tempo que não venho aqui. Inclusive tive de pedir ajuda a um amigo meio piratinha para me recuperar passwords e ajudar-me a entrar aqui de novo. Hahaha! Resolvi voltar, porque tive a necessidade de partilhar esta nova fase da minha vida e porque independentemente da meia dúzia de “gatos pingados” que me liam, talvez alguém se identifique com o que vou escrever.
Não nasci com esse chamamento de ser mãe biológica. Lembro-me de sempre querer adotar uma criança. Dar uma família a quem nunca teve, ou perdeu, ou lhe foi retirada. Sempre achei que pôr mais crianças no mundo quando tantas outras precisavam de uma família, era uma atitude um pouco egoísta. E nunca entendi comentários como, “Não sei se conseguiria amar um filho que não fosse meu”, “Ai, não é a mesma coisa quando não é teu”, “Sabes lá que problemas pode ter essa criança!” e mais disparates como este. Quando há amor para dar, dá-se. No matter who! Mas fui adiando esse desejo, porque para fazer isso a dois, também tens de ter a pessoa certa ao teu lado ou ainda mais complicado, ter alguém que partilha da mesma opinião. A não ser que haja um problema clínico, ou não querem, ou querem os “seus” primeiro. Eu queria o inverso e sem colocar a hipótese de haver um segundo filho biológico. Aqui era eu que estava a ser egoísta , eu sei. Mas estas decisões têm de ser mesmo a dois, senão, mais cedo ou mais tarde acaba por dar desentendimento. Durante muito tempo chegamos mesmo a correr alguns riscos e a verdade é que nunca aconteceu. Eu cheguei mesmo a convencer-me que era “imune à gravidez”. E isso dava-me algum descanso, porque na realidade nunca foi algo que eu quisesse muito e isso levou-me também a nunca investigar um bocadinho mais o porquê. A relação terminou e seguiu cada um para o seu lado. Não foi a única razão, obviamente, mas foi o motivo mais forte.
Durante alguns anos fui tendo os meus namoricos, paixonetas aqui e ali, mas nenhuma preenchia os requisitos para ser uma relação mais séria e quiçá, um projeto de família. Há dois anos atrás, engravidei de um desses namoricos e embora a relação não tenha tido muito sucesso, percebi que afinal eu não era imune à gravidez como pensava, e que não tinha problema nenhum. Por questões clínicas tive de interromper a gravidez e foi aí que tudo mudou… A vida dá-nos a oportunidade de viver situações que nenhum homem alguma vez poderá viver, mas dá-nos um prazo de validade que os homens não têm. Ou se têm, é muito mais alargado. Aos 39 anos, questões como, “E se está foi a minha única chance?”, “E se eu não encontrar ninguém nos próximos anos?”, “Mesmo que encontre alguém, quanto tempo vou precisar de esperar para conhecer essa pessoa ao ponto de querer ter uma família com ela?”, ” E se já for tarde?”, e muitas outras perguntas, dúvidas, preocupações começaram a surgir.
No ano passado conheci uma pessoa que cumpria alguns dos requisitos mais importantes para mim, mas uma proposta de trabalho desviou-o do meu caminho. A nossa diferença de idades e perspetiva de relação também não era a mesma e por isso, terminou. Foi exatamente nesse momento que decidi deixar de hipotecar a minha vida em prol de uma pessoa que se calhar não existe para mim. Deixei de acreditar no amor em pares (embora tenha exemplos incríveis e muito inspiradores à minha volta) e comecei a ver que a minha panela não tem tampa. Em brincadeira com amigas e em resposta desta frase popular, respondia sempre: “Eu sou uma frigideira, porque as frigideiras não têm tampa. Hahaha”. Nunca me senti mais completa porque tinha alguém do meu lado, ou mais feliz. É claro que se tivermos alguém com quem partilhar muitas coisas e sobretudo amor, é melhor. Mas isso nunca foi uma questão para mim. Sempre fui muito feliz quando estava sozinha e às vezes ter alguém não me acrescentava absolutamente NADA. Portanto eu também não deveria precisar de um companheiro para poder criar a minha própria família.
Este pensamento e a questão da hipoteca da vida, levaram-me à decisão de uma produção independente. Já com a decisão tomada, partilhei a mesma com os amigos mais próximos e com a minha mãe, e ao sentir o apoio, força, encorajamento e amor total de todos, foi só uma questão de tempo até me dirigir a uma clínica de fertilização. Não foi uma decisão nada difícil porque colocando a minha estória de vida em perspetiva, poucas dúvidas me restavam. Também não sou uma pessoa conservadora ou tradicional e por isso, até a questão da barriga de aluguer esteve em cima da mesa. Mas no nosso país, salvo algum problema mais grave e clínico, ainda é um processo ilegal e arriscado. Como não tenho nenhum problema de fertilidade (aliás, fiquei a saber que aos 40 anos a minha reserva de óvulos era muito boa) todo o processo foi extremamente simples e rápido, porque só tive de fazer uma inseminação (se quiserem saber mais sobre o processo, posso explicar noutro post).
Entretanto já estou de 3 meses e meio e a primeira prova (1º trimestre) foi superada. O primeiro trimestre é sempre o mais complicado, porque a taxa de aborto espontâneo é alta e só ao fim de 12 semanas é que conseguimos saber se o feto tem algum tipo de má formação (Trissomia). Eu confesso que só depois de saber que o risco era muito, muito, muito baixo é que assumi a mim mesma que este projeto tinha grandes hipóteses de vir a acontecer. 🙂 Uma mulher grávida não está livre de complicações até ao final da gravidez, mas há fases mais sensíveis que outras.
Já estamos prontos para a segunda fase!
Linda esse é sem dúvida o teu maior projecto Bjs
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Nunca me identifiquei tanto com algo, como o que acabei de ler aqui! Sigo-a pelo instagram há algum tempo e tenho adiado ler o post (porque não sabia que tinha um blogue) porque este tema faz-me doer o coração. Também acho que sou uma frigideira, não tenho a minha tampa. Aliás acho que sou uma frigideira falhada porque tenho 39 anos e não tenho aquilo que chamam de vida “normal”…não tenho companheiro nem filhos! Mas, eu quero mesmo muito ser mãe, e ler isto foi uma chapada sem mãos! eu posso ser Mãe sem precisar de ter um pai para a criança, porque os meus sonhos não devem ser adiados por apenas não encontrar o meu par! Pode por favor falar um pouco da clínica ou se recomenda algum sitio? é algo acessível de preço, ou tenho que vender um rim? LOLOL brincadeira!
Obrigada pela partilha desde já e muitas felicidades neste momento lindo…seu e desse bebé!
Vanda
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Olá
Descobri agora por acaso este texto !
Diria que fui eu k o escrevi dada a semelhança flamengos coragem é certeza 🙂
Também eu fui corajosa aos 44 anos ao decidir ser mãe por conta própria .
Tive a sorte de em todo o processo que percorri absolutamente sozinha ( não quis criar expectativas na família ) correu tudo bem! Por Fiv e à primeira ! Sou mãe de gémeos Maria e Miguel
Agora com 2 anos ! São lindos e perfeitos é são a melhor decisão da minha vida ! Ainda bem que fui uma frigideira toda a vida para me levar o destino a te los hoje !
Um beijinho e tudo de bom para si e para o pequenoLucas
Elisa
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Ola Elisa, antes de mais quero.pesie desculpa por nunca ter respondido. Sou tao desleixada c o blog que nem sabia que tinha comentado. Fico muito feliz pelos gemeos! Sei que nao sou a unica a tomar esta decisão, mas a verdade é que antes de partilhar a minha estoria nao conhecia ninguém.
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